A Fitoterapia e os Profissionais de Saúde

A Fitoterapia e os Profissionais de Saúde

Ricardo Tabach

Professor Doutor Plantas Medicinais , Pesquisador Científico do CEBRID e coordenador do Planfavi

Publicado em 12/04/2023

Com o reconhecimento do uso de fitoterápicos com finalidade profilática e curativa

pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil iniciou um processo de validação

dessa prática. A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) e

a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF) foram implantadas

em 2006; elas contemplam diretrizes, ações e responsabilidades nas 3 esferas de

governo para a oferta de serviços e produtos, culminando na criação do Programa

Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, em 2009.1 Neste contexto, o mercado de

fitoterápicos no Brasil vem apresentando um crescimento significativo nos últimos anos,

impulsionado não só pela maior aceitação destes produtos pela população em geral,

como também pela sua incorporação e disponibilização nos sistemas públicos de saúde,

como é o caso, entre outros, da valeriana e da espinheira santa. Contudo, ainda

encontramos uma grande resistência dos profissionais de saúde em relação à eficácia e

segurança dos fitoterápicos, fazendo com que continuem priorizando a prescrição de

medicamentos alopáticos. Os motivos para isto são variados e tem sido objeto de vários

estudos. Uma pesquisa realizada em 2022 com 156 profissionais de saúde no município

de Rondonópolis-MT, incluindo diferentes profissionais como enfermeiros, médicos,

odontólogos, farmacêuticos, psicólogos, técnicos em enfermagem e agentes

comunitários de saúde, entre outros, revelou que 58% dos entrevistados não souberam

explicar a diferença entre fitoterápicos e plantas medicinais, 52% não sabiam realizar

orientações nem citar o nome de medicamentos proveniente das plantas e 88% não

fizeram curso ou disciplina na área. No entanto, 86% manifestaram interesse em se

qualificar no assunto. Dentre os profissionais prescritores, 72,1% afirmaram prescrever

raramente ou não prescrever a fitoterapia em sua prática profissional.2

Há uma grande lacuna no conhecimento, por parte dos profissionais de saúde, a

respeito dos efeitos terapêuticos dos fitoterápicos. O desconhecimento e a falta de

preparo/ capacitação dificultam a adoção destes produtos como recurso terapêutico na

rede pública de saúde, fazendo com que os profissionais da área, em sua maioria,

deixem de prescrever, recomendar e/ou orientar o uso destas práticas nas suas

atividades profissionais.. Dessa forma, faz-se necessária a implantação e

implementação de programas de capacitação através de cursos, palestras ou até mesmo

da introdução da disciplina de fitoterapia na grade curricular de todos os cursos da área

da saúde, com a finalidade de auxiliar e orientar no uso desta prática como uma

importante opção terapêutica disponível para a população. Outro aspecto digno de nota

está relacionado com a necessidade de realização de uma ampla campanha de

divulgação e conscientização da população para o uso racional e seguro dos

medicamentos, mesmo aqueles de “origem natural”, pois a crença de que o que vem da

terra não faz mal ainda se encontra enraizada na cultura popular.

Ricardo Tabach

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